
O que está acontecendo no Brasil?
1. Política – O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, pediu demissão na segunda-feira (20), após pressões do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). (Valor)
O ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, afirmou que o governo não consegue controlar os preços dos combustíveis, criticou o lucro da Petrobras e defendeu a privatização da companhia como forma de aumentar a competitividade. (Câmara)
A Polícia Federal prendeu, na quarta-feira (22), o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, e pastores no caso de favorecimento na liberação de verbas. Ribeiro foi solto na quinta (23). Relembre o caso aqui. Senadores tentam criar uma CPI do MEC. (Estadão)
O Partido dos Trabalhadores (PT) lançou as diretrizes programáticas para a campanha presidencial. O partido decidiu não revogar a reforma trabalhista, mas propôs revisão. (CNN)
Pesquisa PoderData mostra Lula (PT) liderando a corrida eleitoral com 44% (+1 ponto percentual) das intenções de voto no primeiro turno. Bolsonaro (PL) registrou 34% (-1pp). A desaprovação do governo foi de 52% (estável) e a de aprovação em 30% (+2pp). A pesquisa foi realizada de 19 a 21 de junho, por telefone, com 3.000 eleitores. (Poder360)
Pesquisa Ideia/Exame, realizada por telefone com 1.500 eleitores, entre 17 e 22 de junho, mostra Lula com 45% (+1pp), e Bolsonaro com 36% (+4pp). Para 44% (estável), o governo é avaliado como “ruim/péssimo”, e 33% (+5pp) o consideram “ótimo/bom”. O trabalho de Bolsonaro é desaprovado por 46% (+2pp) e aprovado por 36% (+4pp). (Exame)
A terceira pesquisa divulgada foi a Datafolha. Lula registrou 47% (-1pp) das intenções de voto, no primeiro turno, contra 28% (+1pp) de Bolsonaro. O índice de desaprovação do governo ficou em 47% (-1pp) e o de aprovação, 26% (+1pp). O Datafolha ouviu 2.556 eleitores, presencialmente, entre 22 e 23 de junho. (Folha)

Segue a tabela de pesquisas selecionadas:

2. Economia – O governo tenta criar um vale-diesel de até R$ 1.000,00 a caminhoneiros. O benefício seria criado dentro em um estado de emergência, para evitar violações à lei eleitoral. (Folha)
O governo federal estuda aumentar o valor do vale-refeição como uma compensação por abandonar a ideia de reajustar os salários este ano. (Estadão)
A Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) autorizou reajustes de até 64% nas tarifas da conta de luz para custear o uso de térmicas. Os novos valores valerão a partir de julho. (Folha)
Vendas em shopping centers registraram alta de 81,5% em abril, na comparação com o mesmo mês do ano passado. (Estadão)
A Fiat, Volkswagen e General Motors estão paralisando atividades por falta de componentes elétricos. A medida decorre principalmente da guerra na Ucrânia, dos lockdowns na China. (Estadão)
O Brasil registrou, em março, a abertura de 357 mil novos negócios. É o novo recorde para o mês desde 2010. (Poder360)
A arrecadação federal ficou em R$ 165,3 bilhões em maio, alta real de 4,13% em relação a maio de 2021 e maior valor para o mês da série histórica, desde 1995. (Valor)
O Banco Central elevou de 1% para 1,7% a previsão de crescimento do PIB em 2022. (Folha)
Um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica (Ipea) aponta que a taxa de desemprego recuou em abril e chegou a 9,4%. Esse é o menor nível registrado desde outubro de 2015. (CNN)
3. Administração pública – O IBGE iniciou, na segunda-feira (20), a primeira coleta do Censo Demográfico 2022. O Instituto vai mapear 5.570 municípios para obter informações sobre infraestrutura urbana, como acessibilidade, circulação e equipamentos públicos. (O Globo)
Foi realizada a Semana Brasil-OCDE. No começo de junho, a OCDE aprovou o roadmap para o início formal do processo de entrada do Brasil na organização. (Estadão)
Delegado da PF que prendeu o ex-ministro da Educação indica que houve interferência na condução do caso. (g1)
Uma análise:
1. O cenário político entrou em tendência neutra. O principal motivo foi a desarticulação provocada pela situação com a Petrobras e a prisão de Milton Ribeiro. O governo sofreu um desgaste importante em ambos os casos. Na busca de tentar uma solução política para um problema econômico, Bolsonaro e Lira, alinhados, criaram ruídos em um momento delicado para a eleição presidencial. As tentativas de criação de uma CPI e de rever a Lei das Estatais, além de não criarem uma vantagem política para Bolsonaro, não parecem ser, até agora, viáveis. O episódio com Ribeiro cria uma situação problemática de curto prazo, gerando ondas que perturbam os arranjos políticos no Congresso, mas também gera questões de longo prazo para a narrativa da campanha de Bolsonaro. O discurso anticorrupção pode ser enfraquecido por esse episódio.
Esse duplo revés para o governo pode ter reduzido levemente o apoio da coalizão presidencial, mas não reduziu os níveis de aprovação do governo e não causou variações significativas nas pesquisas eleitorais. Não se pode negar, contudo, que o quadro eleitoral vai se conformando favoravelmente a Lula, algo que se nota pelas aproximações dos empresários e banqueiros ocorrida esta semana, quando várias notícias traziam as manchetes de que ele pode ganhar a eleição no 1º turno. Atento a esse quadro menos favorável, Bolsonaro tenha evitado conflitos institucionais.
Na próxima semana, merece destaque a audiência pública a ser realizada na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, na quarta-feira (29), com o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, e os comandantes das Forças Armadas. A audiência faz parte do regimento do Senado, mas questões eleitorais, inclusive a tensão com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), podem ser tema da reunião.
2. A economia continua em trajetória positiva. Embora sejam preocupantes tanto a inflação persistente (IPCA-15 de junho em 0,69%) quanto o cenário de incerteza, o índice de difusão parece estar diminuindo e deve cair bem em julho. O aumento das tarifas elétricas, contudo, pode pesar.
As pressões para que o governo gaste mais, tanto com o Auxílio Brasil quanto com a questão dos combustíveis, e mesmo o aumento do vale-refeição para o funcionalismo, não geram grandes impactos nas contas do governo. O efeito tende a ser mais político, na busca de soluções para que a população tenha mais recursos disponíveis (seja pela queda da inflação ou pela concessão de subsídios). O aumento de arrecadação, mesmo que por conta da inflação, também contribui para uma situação fiscal menos problemática.
Por fim, são positivas as notícias da abertura de empresas, bem como a revisão do crescimento do PIB 2022 feita pelo Banco Central.
3. A gestão pública continua com a tendência neutra. A questão do início do Censo 2022 e a semana Brasil-OCDE foram questões positivas na semana. A atuação da PF, tanto na solução dos assassinatos no Amazonas quanto na prisão do ex-ministro Milton Ribeiro, foi diligente e correta. Dois episódios, contudo, seguraram as métricas: o sigilo decretado sobre a atuação dos agentes de Polícia Rodoviária Federal e a suspeita de interferência na condução do caso envolvendo Ribeiro.