Perspectiva da Semana #65


O que está acontecendo no Brasil? 

1. Política – Como desdobramento do depoimento dos irmãos Miranda sobre o processo de aquisição das vacinas da Covaxin, a CPI da Pandemia ouviu, na terça-feira (6) a gestora desse contrato, Regina Célia Oliveira. Na quarta-feira (7), Roberto Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde e acusado de cobrar propina de US$ 1,00 por vacina, prestou depoimento. Ele foi preso por determinação do presidente da CPI, Omar Aziz, acusado de falso testemunho. Na quinta (8) e na sexta-feira (9) foram ouvidos outros envolvidos no processo de aquisição da Covaxin. Esta semana, a CPI deverá receber representante da Precisa Medicamentos, ligado ao processo de aquisição da Covaxin, e de mais dois envolvidos no processo da AstraZeneca, o reverendo Amilton Gomes de Paula e o Coronel Marcelo Blanco.

O Ministério da Defesa emitiu nota de repúdio contra as declarações do senador Omar Aziz (PSD-AM). O episódio gerou atrito institucional, o que foi exacerbado por declarações do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) contra a CPI, sobre as eleições e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e, em especial, sobre o ministro Luis Roberto Barroso do Supremo Tribunal Federal (STF). O Legislativo e o Judiciário manifestaram preocupação com as declarações de Bolsonaro.

Pesquisa divulgada pela Confederação Nacional de Transportes (CNT) mostra que 27,7% dos brasileiros consideram o desempenho do governo como ótimo ou bom. Já o índice de desaprovação do governo aumentou de 35,5% para 48,2% no mesmo período. A íntegra da pesquisa pode ser lida aqui. Além dessa pesquisa, o PoderData indicou índice de reprovação do governo de 61% e aprovação de 33%, e o Datafolha mostrou que a reprovação ao governo alcançou 51% e a aprovação 24%. Por fim, a pesquisa XP/Ipespe apresentou índice de 52% para a desaprovação do governo, e de 25% para aprovação.

2. Economia – Na terça-feira (6), o governo publicou a prorrogação do auxílio emergencial por mais três meses. Além disso, governo avalia aumentar o valor médio do Bolsa Família de R$ 190,00 para R$ 280,00 ou R$ 300,00. A discussão anterior sobre o aumento estudava atingir até R$ 250,00 de valor médio.

A Petrobras anunciou aumento no preço dos combustíveis. A gasolina aumentou 6,3% e o diesel, 3,7%, em função do mercado internacional.

O índice Ibovespa fechou em queda semana passada e o dólar chegou a atingir R$ 5,20. O movimento dos mercados foi atribuído a ruídos políticos.

O governo planeja vender 100% dos Correios. A expectativa é de que o projeto de lei que autoriza a venda seja concluído até o fim de agosto. O leilão da venda é previsto para ocorrer em março de 2022.

3. Administração públicaDados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) continuam revelando problemas na Amazônia. A área de desmatamento para o mês de junho alcançou 1.062 km2.

O atual Advogado Geral da União e ex-ministro da Justiça, André Mendonça, deve ser oficialmente indicado para vaga de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF). A indicação decorre da aposentadoria do ministro Marco Aurélio Mello.


Uma análise:

1. A tendência política está mais negativa do que nunca. A dinâmica dos fatores que determinam essa análise está ancorada nos efeitos da CPI da Pandemia sobre a coalizão, a queda no apoio popular e o aumento no nível de conflito institucional.

A CPI começou com um eixo que não era atraente. Gestão pública e políticas públicas são assuntos áridos, com pouco apelo popular. É um low salient issue e a tecnicidade do debate não vinha causando danos ao governo. Com a mudança do foco da CPI para dois casos de corrupção, o governo passou a sofrer mais. Por que isso importa? Além de ser mais sedutor para a oposição criar e desenvolver uma narrativa que aproximasse o governo Bolsonaro dos atos de corrupção de governos anteriores, esse movimento drena toda a atenção da cúpula do governo. Ou seja, não só a imagem do governo fica desgastada, mas a gestão passa a ficar mais abandonada ou subordinada às questões que possam amenizar o efeito negativo da CPI no governo.

Não fosse isso suficiente, o apoio popular ao governo tem diminuído, principalmente com o aumento da rejeição ao governo. Ainda assim, algumas pesquisas ainda mostram apoio ao governo entre 24% a 33%, o que não é pouco. Dois meses atrás, o piso considerado era de 30%. Hoje, já é possível acreditar que a aprovação do governo pode chegar a 20%, podendo trazer ainda mais dificuldades na aprovação da agenda governamental. Minha percepção é de que os auxílios financeiros e o avanço da vacinação podem segurar os índices no intervalo 20% a 25%.

Por fim, para piorar a situação política, o elemento mais desnecessário é que o governo mais consegue controlar: os ataques institucionais de Bolsonaro. Está claro que seus ataques carregam forte componente eleitoral, mas o eleitor médio parece repudiar esse comportamento.

2. A economia continua com tendência positiva. A política monetária permanece atenta aos movimentos e pressões inflacionárias. Os recentes aumentos na energia elétrica e nos combustíveis devem adicionar mais motivos para aumentar a taxa Selic. Além disso, a volatilidade cambial acrescenta incerteza na estimativa inflacionária. O risco fiscal, apesar de estabilizado nos últimos meses, tem aumentado à medida que os problemas políticos trazem ideias populistas, em que o Estado passa a injetar recursos na economia.

Apesar dessas preocupações, os índices de confiança na atividade econômica vêm aumentando. Isso contrasta com os movimentos exagerados no câmbio e na queda do mercado de ações.

3. A gestão pública está com trajetória negativa. A principal alteração na tendência é o efeito da CPI no governo. Embora o principal impacto seja no ambiente político, o debate sobre corrupção no governo drena todas as energias da administração para sobreviver a essa conjuntura. O governo, enquanto durar a CPI, vai reagir a qualquer assunto polêmico que apareça. A linha de investigar os supostos casos de corrupção não vão parar.

Por competência da equipe do Ministério da Economia, a atividade e as perspectivas econômicas são boas, mas isso não ocorre de forma homogênea no governo. Um claro exemplo disso foi a nota do Ministério da Defesa, que deve trazer resistências profundas no parlamento e, possivelmente, dificuldades operacionais para a pasta no futuro. A atenção dos ministros e secretários vai ficar mais dividida entre as questões de gerenciamento, de defesa dos atos do governo e das próximas eleições.


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