
O que está acontecendo no Brasil?
1. Política – A CPI da Pandemia aprovou, na semana passada, diversos requerimentos de convocação, incluindo o de nove governadores, do ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, e do atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga. Esta semana, a médica Nise Hitomi Yamaguchi deverá ser ouvida na terça-feira (1), e outros especialistas prestarão esclarecimentos na quarta-feira (2).
É previsto o comparecimento do ministro da Economia, Paulo Guedes, na segunda-feira (1), na Comissão Temporária da Covid-19, para debater o Plano Nacional de Imunização (PNI). Na terça-feira (2), Guedes deve comparecer em reunião da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados.
Houve manifestações contra o governo, no sábado (29), em várias cidades.
O senador Flávio Bolsonaro anunciou desfiliação do Republicanos na quarta-feira (26).
2. Economia – O governo estuda isentar motos de pedágio. A medida é criticada por técnicos e pelas concessionárias de rodovias federais. A isenção, caso seja implementada, representará aumento de custo para as outras categorias de veículos.
O mês de abril registrou 121 mil postos de trabalho com carteira assinada. O número é 9,6% abaixo das admissões em relação ao mês de março, quando o saldo de contratações chegou a 184 mil.
Estimativas para o crescimento do PIB continuam aumentando, com previsões de 4,3% a 5%. Novas projeções do mercado avaliam que a dívida pública em 2021 pode ficar em torno de 85% do PIB, contra mais de 95% de previsões anteriores.
Com os resultados de conta corrente de maio, o Banco Central projeta que o déficit acumulado, em 12 meses, registrará o menor rombo desde 2008.
3. Administração pública – A participação do general Eduardo Pazuello na manifestação de apoio ao presidente Bolsonaro, no domingo passado (23), motivou a abertura de procedimento disciplinar no Exército. Militares da ativa são proibidos de participar de eventos políticos.
Na quarta-feira (26), o vice-presidente da República, Hamilton Mourão, afirmou que era “falta de educação” a ausência do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ou de qualquer representante da pasta,em reunião do Conselho Nacional da Amazônia. Salles tem evitado aparições públicas desde que foi alvo de operação da Polícia Federal na semana anterior, sob suspeita de corrupção envolvendo exportação de madeira.
Uma análise:
1. A tendência política para a semana continua neutra. A CPI da Pandemia continua não gerando impacto político significativo contrário ao governo. Na semana passada, o assunto que mais chamou atenção foi o depoimento de Dimas Tadeu Covas, diretor do Instituto Butantan, ao revelar atrasos do governo federal para decidir sobre a compra de vacinas, em julho de 2020.
A coalizão presidencial deve sofrer alterações, mas a decisão do senador Flávio Bolsonaro de sair do Republicanos indica intensa negociação política para a filiação de Bolsonaro em alguma sigla disposta a acomodar o presidente e seu filho. Também não houve aumento de conflitos institucionais e o apoio popular ao presidente permanece estável.
2. A tendência para a economia permanece em alta. As previsões feitas pelo mercado continuam sendo revisadas e apontando para um cenário econômico mais robusto. O PIB de 2021 deve mostrar um crescimento importante em relação às estimativas feitas no começo do ano. Igualmente importante é a melhoria da dívida pública em relação ao PIB. Como mencionado por Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual, no evento CEO Conference Brasil 2021 semana passada, o governo Bolsonaro deve ser o primeiro a concluir o mandato com despesa primária menor do que a que recebeu de seu antecessor desde 1988. Sob qualquer medida, se isso se concretizar, será um grande feito econômico, com impactos na própria eleição
3. A gestão pública está em tendência negativa. Apesar de ser consensual, entre militares, que Pazuello infringiu as normas do Exército, existe pressão do governo para que o comandante do Exército não o puna. Ouvi muitas versões sobre o que estaria por trás da participação de Pazuello no passeio motociclístico. Alguns analistas exploraram a ideia de que, no extremo, seja uma estratégia de Bolsonaro para conseguir, na prática, a politização das Forças. Eu não descartaria essa hipótese, mas me parece conspiratória demais para ser verdade. De qualquer forma, é um sinal ruim, tanto a participação de Pazuello quanto a pressão para que seja poupado de punição.
A situação do ministro Ricardo Salles continua muito ruim, tanto para a pasta quanto para a imagem do Brasil. Ele ainda conta com amplo apoio de parlamentares e, a menos que alguma prova contundente contra ele apareça, Salles não deve ser retirado do cargo por enquanto. Como mencionado em outras Perspectivas do ano passado, o sistema decisório nos temas de meio ambiente é fragmentado, confuso e não consegue avançar sobre os problemas públicos. A inclusão do Conselho da Amazônia nesse sistema, como já era esperado, não reverteu essa tendência.
1 As tendências são de curto prazo e resultam da análise entre informações ocorridas na semana e métricas estruturais.