As inscrições para o Chevening começaram na quinta-feira

Nesta quinta-feira (3), começaram as inscrições para o Chevening, o disputado programa de bolsas do governo britânico para fazer mestrado na Inglaterra.

A Embaixada do Reino Unido e o Partiu Intercâmbio fizeram um vídeo “fato ou fake” para esclarecer alguns mitos. Ficou muito bom (eu faço uma ponta, junto com outros dois amigos do mesmo ano em que fui):

O processo é competitivo e longo, mas é justo e muito eficiente.

Em comemoração à data de dois anos que fomos para a Inglaterra e à abertura das inscrições do Chevening, eu vou fazer aqui um breve relato da minha experiência, tanto do meu processo no Chevening, bem como do meu curso. Eu diria que o relato será mais útil para quem quiser ir com a família ou tiver como objetivo estudar políticas públicas. Peço que observem as normas atuais, caso algo tenha mudado, então lembrem-se de coletar as informações na fonte, no caso, o Chevening.

O primeiro ponto de parada foi a página do Chevening. Sem entender como a seleção funciona, para que eu pudesse garantir que a bolsa ofereceria condições de estudar políticas públicas, não adiantaria muito eu focar apenas em ser selecionado pela universidade. Eu fui aprender quatro coisas lá: primeiro, que eu teria de ter o inglês em dia e ser aprovado em pelo menos um dos três cursos para os quais deveria me candidatar; segundo, eu teria de informar ao Chevening quais seriam esses três cursos e, caso eu fosse aprovado na bolsa, mas não naqueles cursos que eu indiquei na minha inscrição, adiós, não tem bolsa. Não haveria bolsa para cursos que eu não indiquei na inscrição; terceiro, o governo britânico pagaria 100% do curso que eu queria, e ainda pagaria por para eu ir estudar e me manter lá (passagens + um valor mensal, suficiente para manter uma pessoa com dignidade em Londres); quarta “coisa”, estudar o que o Chevening busca e como eu poderia saber se eu seria um candidato elegível e competitivo.

Uma vez que entendi isso, fui buscar os cursos que queria. Se não me engano, você deve indicar três cursos que tenham relação entre si, de universidades diferentes, ou cursos diferentes na mesma universidade. De um jeito ou de outro, você vai ter de estudar muito os cursos que você quer fazer, porque explicá-los é uma das perguntas do Chevening.

No meu caso, eu queria estudar políticas públicas, mais precisamente entender por que uma política pública é de um jeito e não de outro. Meu objetivo era estudar fatores de influência em políticas públicas, como lobbying, o poder empresarial, o papel dos atores políticos domésticos ou de fatores exógenos, como a mídia ou o contexto internacional. Eu não tinha muito interesse em compreender profundamente uma política pública setorial, como a área social ou de meio ambiente, mas saber o que poderia influenciá-las de modo geral. Também não fazia brilhar meu olhos aprender a fazer a gestão de políticas públicas, porque esse era o meu trabalho no governo. Desse modo, eu entendi que a minha melhor opção era o Master of Arts da King’s College London, onde fui aprovado.

Um outro detalhe importante, é que entendemos que esse seria um projeto familiar, em que iríamos juntos, minha esposa e meus filhos. Não faria sentido para nós que eu fosse e eles não. Agora tem uma coisa para resolver: a bolsa do Chevening não sustenta uma família, de modo que tivemos de contar com recursos próprios para viabilizar a família em Londres. Escola das crianças foi gratuita, por elas serem dependentes, e avaliei qual seriam as melhores de acordo com o Ofsted, o órgão de avaliação das escolas. Consegui um apartamento para estudantes com família, oferecida pela University of London, numa localização magnífica, perto da King’s e perto da escola das crianças, do lado de um parque infantil e do lado do metrô. O aspecto familiar foi muito bem equacionado.

Pois bem, voltando então aos nossos quatro pontos iniciais. O inglês não foi problema, porque estudava há muitos anos, nunca deixei de estudar, e consegui notas superiores ao requisito necessário tanto para o Chevening quando para a King’s. Meu processo de candidatura na King’s estava andando bem e consegui uma “unconditional offer” logo de primeira, em começo de fevereiro. Na sequência, tipo uma semana depois, recebi a notícia de que tinha sido selecionado para a fase de entrevistas no Chevening. Aí comecei a entender que tinha mais chances de ir do que de não conseguir a bolsa. Fiz a entrevista em março, com três pessoas me fazendo perguntas durante mais de 1 hora. Saí de lá sem saber se tinha sido aprovado ou não, mas saí com 100% de certeza de que tinha conseguido transmitir exatamente quem eu era e o que eu queria. Poderia ser que eu não fosse o que eles buscavam, mas…… dia 12 de junho, dia dos namorados, chegou o e-mail dizendo que eu tinha sido aprovado. Foi uma grande alegria.

Orientation day

Uma vez que fui aprovado no Chevening, o curto espaço de tempo para organizar tudo para a nossa partida foi suficiente. Vistos, passagens, depósito do apartamento, tudo deu certo. Chegando lá, ficamos sem bagagens alguns dias, tudo devidamente suprido a preços módicos na Primark. O hotel que tinha sido reservado perto de onde iríamos morar era péssimo, mas era o que tinha vaga para a chegada para umas duas diárias a preços suportáveis. Era bem espelunca. Depois de feito o reconhecimento da área, fomos para outro hotel, por uns 10 dias, perto da London Eye e do Big Ben. As crianças adoraram. Começaram a escola e se sentiram muito bem. Mais uns dias e nos mudamos para o International Hall.

Existem várias opções de moradias para estudantes pelas universidades, o que eu recomendo por dois motivos. Primeiro, você vai pagar menos do que se fosse um aluguel feito por imobiliária. Nos apartamentos das universidades, tudo está incluído: água, aquecimento e internet. Segundo, você fica dentro do ambiente acadêmico, conhece pessoas interessantíssimas, conduzindo projetos fantásticos. Eu não vi nenhuma desvantagem.

Para famílias, havia duas opções: o International Hall e o Goodenough College. Eu recebi proposta dos dois, mas o International Hall me pareceu melhor, porque o apartamento era um duplex, dentro do condomínio, no térreo, com a frente para a rua e a vista interna para o jardim das famílias. Tinha brinquedoteca, biblioteca, refeitório (caso quiséssemos) e cinema. Ping-pong, sinuca, piano e… um bar. O Goodenough também é muito bom, só para estudantes de mestrado ou doutorado, mas o apartamento que nos ofereceram era pior: último andar, num prédio em reforma e fora do condomínio. Enfim, escolhemos o International Hall e adoramos ter morado lá.

Agora que já contei um pouco sobre o processo do Chevening e nossa chegada, vou dizer um pouco sobre o meu curso. O MA in Public Policy tem uma variedade de módulos que eu queria ficar lá uns dois anos para poder cursar mais umas 5 matérias. O mestrado fica dentro do Departamento de Political Economy, que contempla vários mestrados correlacionados. Além dos módulos obrigatórios, eu montei minha grade voltada para lobbying, economia política, mídia e governança. A maioria das minhas aulas era na Bush House, antiga sede da BBC. O prédio e as instalações são excelentes, muito modernos e foram todos renovados. Do outro lado da rua fica o Strand Campus, que pega uma parte da Somerset House

A Maughan Library foi meu escritório durante a semana. Super organizada, com salas individuais para alunos de pós-graduação, impressoras no prédio todo. Muito bonita. Outra coisa bem legal é que as áreas de estudo são organizadas por nível de barulho (estudo em grupo, pouco barulho, nenhum barulho, quando não pode nem cochichar), e se pode ou não comer ou beber algo.

No ensino britânico, dizem que o método é “reading for a degree”. Parece que é verdade, porque a carga de leitura é imensa, e parece que a gente vai se afogar em tanta leitura. Minha maior agonia foi constatar, depois de umas duas semanas, que o meu ritmo normal de estudo (ler, fichar, refletir) era inviável e inadequado para a carga de leitura obrigatória (e eu pensando em ler tudo). Tive de ajustar minha vontade de ler tudo, para a leitura seletiva dos papers e capítulos dos livros, e aí deslanchei.

Em relação às aulas, tivemos professores que são referência nas suas respectivas áreas. Além disso, tivemos palestras e eventos com convidados especiais, geralmente, policymakers. Alguns deles não eram revelados até chegarem, por conta de segurança. Uma característica da King’s é que existe uma conexão muito estreita com membros do governo, o que fez muita diferença. Todos os ex-primeiros ministros nos deram palestras e aulas. Além disso, minha turma tive aula por uma manhã em Downing Street N.10, a sede do governo.

Ex-primeiro-ministro John Major, em palestra da King’s na sede do Foreign Office
Palestra do ex-primeiro-ministro Tony Blair para a turma do mestrado, na British Academy. Fez um duro manifesto contra o Brexit.
Visita a Downing Street
Ex-primeiro ministro David Cameron em aula conjunta para a turma do mestrado e da graduação

Eu não poderia ter escolhido um curso melhor. Minha experiência e aprendizado foram excepcionais. Isso me ajudou a enquadrar melhor o tema de políticas públicas, numa perspectiva mais abrangente, o que tem feito diferença nos meus relatórios e nas minhas aulas. Era exatamente o que eu esperava conseguir, e que não teria sido possível sem a bolsa do Chevening, nem sem a ajuda e o apoio de amigos e da minha família. Não é uma jornada que se consiga fazer sozinho.

Além disso, fiz uma rede de amigos com o Chevening muito ativa, e que ajuda bastante em termos de networking. Eu posso dizer que os alumni são pessoas que tratam de todos os temas, no mundo todo, o que tem muito valor e importância.

Se você tiver vontade de ir fazer o mestrado na Inglaterra, não se intimide, não fique desanimado! Se quiser conversar sobre o curso ou sobre o Chevening, é só entrar em contato comigo que terei maior prazer em ajudar!

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